segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Violência Doméstica


A página 18 do Diário de Notícias de 17 de Dezembro é preenchida com duas notícias sobre o caso do senhor Mário Pessoa, agressor e homicída:



Homicida ouviu ontem em tribunal um GNR que baleou. Outro guarda, testemunha no caso, foi agredido a murro. 

Um militar da GNR de Montemor-o-Velho, testemunha no julgamento de Mário Pessoa - que matou a mulher e um soldado da Guarda no interior do posto local -, interveio anteontem numa situação grave de violência doméstica em plena via pública, na freguesia de Pereira do Campo.

O militar e um colega acabaram, aliás, agredidos a murro e pontapé quando tentavam separar a mulher do marido agressor, apurou o DN com fonte policial. Foi necessário a patrulha algemar o homem de 31 anos.

A situação aconteceu pelas 18.30 de quarta-feira. O agressor deu vários empurrões e uma forte cabeçada na mulher. Uma moradora assistiu à cena violenta e protegeu a vítima: puxou-a para dentro de casa e chamou a GNR. O homem desapareceu do local por momentos, mas voltou a aparecer quando avistou a patrulha da GNR. A mulher foi falar com os militares e o marido, irado, descarregou na patrulha ao murro e pontapé. Um dos guardas ficou ferido no peito e o outro no pulso.

Os dois militares, apesar de combalidos, ainda conseguiram algemar o homem, que estava descontrolado. Segundo adiantou fonte policial, os dois guardas precisaram de tratamento hospitalar. Um dos soldados denunciou o detido pelo crime de agressão a elementos da autoridade.

Este detido já tinha antecedentes pelo crime de violência doméstica: uma queixa-crime apresentada no tribunal de Soure - localidade onde o casal residiu antes de se mudar para Montemor-o- -Velho - e outra mais recente, de uma agressão à mulher ocorrida no final do mês numa rua em Coimbra e registada pela PSP.

O agressor foi ontem conduzido ao tribunal de Montemor-o-Velho, mas, ao final da tarde, ainda não tinha sido ouvido. Um dos guardas que ele agrediu era para prestar depoimento como testemunha no julgamento de Mário Pessoa, mas o seu depoimento foi agendado para outro dia.

Foi um outro militar da GNR de Montemor-o-Velho, baleado a 29 de Novembro de 2009 por Mário Pessoa, que protagonizou, ontem à tarde, um dos depoimentos-chave do processo em que o arguido está acusado de 11 crimes, entre os quais duplo homicídio e violência doméstica. Adérito de Jesus Teixeira contou com detalhe todos os momentos que passou, desde que ouviu a sirene de uma ambulância. Antes disso, Maria Manuela tinha feito queixa por violência doméstica.

Os bombeiros que tentaram levá-la ao hospital (e que inverteram a marcha antes de entrar na auto--estrada para a Figueira da Foz devido à perseguição do homicida) contaram, ontem, que a vítima tinha hematomas na cabeça, sangrava dos lábios.

Nesta segunda sessão do julgamento de Mário Pessoa, o militar Adérito Teixeira lembra que quando saiu do posto, para ver porque estava ali uma ambulância em emergência, logo viu o arguido com uma caçadeira, ameaçando todos os militares que surgiam à porta do posto dizendo que saíssem da sua frente pois matava-os a todos. O testemunho deste sobrevivente envolvido neste caso trágico de violência doméstica foi escutado em profundo silêncio na sala de audiências do Tribunal Judicial de Montemor-o-Velho, onde assistiam muitos colegas da GNR.

Mário quis desmentir o relato do militar da GNR. "Prefiro uma prisão perpétua, ele não está a dizer a verdade", disse. O juiz presidente questionou, irritado: "Este senhor agente que saiu baleado está a mentir?" Mário repetiu a tese que se queria suicidar."



Mário Pessoa, ao voltar a evocar ontem a tese de suicídio frustrado, provocou a exaltação do juiz que preside ao colectivo. "Eu era um ser possuído pelo demónio, queria desistir da vida." A frase, em tom exaltado, do arguido Mário Pessoa, no fim da segunda sessão do julgamento em que ele responde por 11 crimes, levou o juiz presidente a adverti-lo, em tom ríspido: "O senhor está cá, a sua mulher não está. O senhor está cá, o militar [David Dias] da GNR não está." Mário Pessoa ainda diz: "Estou com gatilho nas mãos, é fácil disparar", voltando à tese que defendeu no início deste julgamento que queria "desistir da vida".

O duplo homicida ouviu ontem com particular atenção o depoimento da irmã da sua mulher, dos dois bombeiros que tentaram transportar Maria Manuela (vítima de violência doméstica) e do militar baleado. Só os seus pais se recusaram ontem a depor. Findo o testemunho de Teresa Paula Rama Costa, irmã da mulher assassinada a tiro dentro da ambulância, Mário Pessoa levantou-se e gritou: "Paula, saúde para os nossos meninos, minha linda!"

Ela descrevera, momentos antes, o cenário de violência que encontrou em casa da irmã: "Depois de saber que ele a tinha matado fui lá a casa. Vi sangue nos cortinados do quarto da filha, nos tapetes, na casa de banho. Havia uma moldura partida, com a foto do casal." Teresa, emocionada, afirmou que a filha mais nova do casal, que ia ao colo da mãe na ambulância e que depois teve de receber tratamento hospitalar vítima de estilhaços, ainda hoje "tem muitas saudades da mãe". Justifica: "Ela era uma menina feliz, a minha irmã fazia tudo pelos filhos." Na sala, escuta-se o choro de algumas pessoas.

Adérito Texeira, o militar sobrevivente ao tiroteio dentro do posto, justificou porque o homem que tinha acabado de disparar contra a sua mulher não foi algemado, situação que muitos na altura dos trágicos acontecimentos não conseguiram compreender: "Como era muito próximo do posto, como ele não ofereceu resistência, não houve necessidade de algemar." Certo é que Mário Pessoa ainda tinha um revólver no bolso das calças e voltou a disparar. David Dias sucumbiu, baleado.

Quando o militar Teixeira descreve tudo o que viveu dentro do posto até levar Mário Pessoa até à zona prisional, ouve-se, de novo, o arguido a dizer: "Tanta mentira, meu Deus!"

O juiz presidente pergunta ao militar: "Alguma vez se apercebeu que ele queria pôr termo à vida?" A resposta de Adérito é negativa. Explica, sim, que o arguido fazia força com o braço quando tirou um objecto do bolso. "Para mim foi um disparo, fui atingido na anca direita, gritei 'foge Dias', consegui sair de pé, mas comecei a rastejar depois..."

A próxima sessão é a 4 de Janeiro."


E isto é algo que me preocupa profundamente. Ditados como "Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti" ou "Entre marido e mulher não se mete a colher" estão ultrapassados. Uma denúncia e separação por parte da mulher logo na primeira agressão ou denúncias por parte dos vizinhos ou familiares poderiam ter salvo a mulher. Quem ama não agride. A passividade não resolve. Quem agride uma vez, agride as vezes que forem necessárias. Se é vítima de violência doméstica, não continue a ser domada, não seja cúmplice da sua morte. Se tem conhecimento de algum situação de violência doméstica, denuncie. Violência Doméstica é um crime público. Qualquer pessoa tem o direito e a possibilidade de denunciar. Ao fazê-lo, poderá estar a salvar uma vida. Ao escolher não fazê-lo estará a compactuar com o agressor. Nesta matéria não há campo neutro.





domingo, 12 de dezembro de 2010

AS TRÊS MARIAS ESTÃO DE VOLTA!!!

há tanto tempo que esperava esta notícia!!!


"Regresso das 'três Marias'



Das três escritoras, só Maria Teresa Horta esteve presente no lançamento da edição anotada das 'Novas Cartas Portuguesas'.

Quatro décadas depois da publicação, seguida de apreensão e acção judicial; dez anos após esgotar a última edição; depois de dezenas de estudos em universidades estrangeiras e de ainda ser um dos livros portugueses mais traduzidos, a obra que provocou furor feminista e revolucionário no regime antes do 25 de Abril de 1974 foi ontem reapresentada oficialmente por uma das suas autoras: Maria Teresa Horta.

A responsável por esta edição anotada, Ana Luísa Amaral, explicou a importância de uma obra de características inéditas à época, que se mantém correcta à luz das mais recentes teorias feministas mas que nunca foi suficientemente analisada em Portugal. Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, ausentes, foram as outras duas autoras. Todas assinaram a obra sem especificar a autoria de cada um dos textos. "

FONTE: Diário de Notícias



sábado, 11 de dezembro de 2010

São estas pequenas coisas que me irritam

Há dias recebi este e-mail:


"AGRADEÇO...

À MINHA MULHER, por dizer que teremos ao jantar só pão com manteiga, porque ela está em casa comigo e não em algum outro lugar, não sei onde!


AO MEU MARIDO, ESPARRAMADO COMO UM PURÉ DE BATATA, A LER NO SOFÁ, porque ele está comigo e não a tomar uns copos em algum bar... 


À ADOLESCENTE CÁ DE CASA, QUE ESTÁ RECLAMANDO POR TER QUE LAVAR A LOUÇA, porque isso significa que está em casa, e não deambulando pelas ruas...


PELAS BRONCAS DO CHEFE, pois isto significa que estou empregado...


PELA BAGUNÇADA EM QUE FICOU A CASA DEPOIS DA FESTA, porque isso significa que estive rodeado de amigos...


PELAS ROUPAS QUE ME ESTÃO A FICAR "JUSTAS", porque estou de saúde e tenho o suficiente para comer…


PELA MINHA SOMBRA QUE ME ACOMPANHA, porque isso significa que ando fora e ao sol...


PELA RELVA QUE PRECISA SER CORTADA, PELAS JANELAS QUE PRECISAM SER LIMPAS, E PELAS PERSIANAS AVARIADAS, porque isso significa que tenho uma casa...



POR TODAS AS QUEIXAS QUE FAÇO CONTRA O GOVERNO, porque isso significa que temos liberdade de expressão...



PELO LUGAR QUE SÓ CONSEGUI NO FIM DO PARQUE DE ESTACIONAMENTO, porque tenho carro e posso caminhar...



PELA CONTA MONSTRUOSA DE ENERGIA QUE PAGO, porque isso significa que tenho conforto em casa...



PELA SENHORA DESAFINADA QUE CANTA ATRÁS DE MIM NA IGREJA, porque isso significa que tenho ouvido...



PELA PILHA DE ROUPAS PARA LAVAR E PASSAR porque isso significa que tenho família...



PELOS MÚSCULOS DORIDOS E A FADIGA AO FINAL DO DIA, porque isso significa que fui capaz de ter um dia preenchido...


PELO DESPERTADOR QUE DE MANHÃ ME ABORRECE, porque isso significa que continuo vivo...


ESTOU GRATO PELOS "PALERMAS" DOS MEUS COLEGAS DE TRABALHO,
porque tornam o dia mais divertido e interessante...


[e, finalmente, por receber montes de e-mails, pois isso significa que os amigos pensam em mim!!! manda isto para quem gostas, como eu fiz contigo!... ]"

Concordo que há pessoas que se queixam por tudo e por nada e que isso não é saudável, mas... Percebem o que nos é aqui proposto? Querem que nos conformemos com a mediocridade. Nesta optica, se uma miúdo reprovar todos os anos não importa, pelo menos anda na escola; se um norte-coreano vir a sua família toda ser morta não faz mal, pelo menos está vivo, ah, e tem boa visão.

Depois, claro, notem que quase tudo o que está ali escrito é em relação à mulher. É como quem diz: "trabalha e não reclames, anda, não me chateies porque por me teres a mim e à família que eu te dei já é motivo suficiente para estares agradecida".

Mas o que é isto? A natureza humana é exigir sempre mais. e esse é o motor da evolução. Se sentimos que estamos mal e agradecemos pelo lado positivo da coisa para nos, em certa forma, despreocuparmos com o lado negativo não haverá evolução nenhuma.


Por favor, exijam sempre mais! Não se conformem com o que têm.



sábado, 27 de novembro de 2010

Números Preocupantes ( mas não surpreendentes )


Venho apenas deixar uma notícia que contém dados que falam por si. São números divulgados a propósito do Dia Internacional da Mulher que se "celebra" a 8 de Março. Apesar de ser contra os dias internacionais, mundiais, nacionais ou o que seja, quero apenas referir que este dia não trata de celebrar a mulher. É, antes, um protesto, uma memória que deveriam ser mantidos todos os outros dias do ano. Não se trata de exaltar as qualidades da mulher. Trata-se do assumir de uma luta que não deveria deixar ninguém indiferente. Grite sempre, e não apenas hoje. Celebre só depois de terminar de gritar..




"Dia das Mulheres: as mesmas lutas há 100 anos


A violência contra as mulheres e a discriminação laboral continuam a ser as grandes lutas, cem anos após a Dia Internacional da Mulher, que hoje se comemora em todo o mundo.

Nos últimos dias, relatórios nacionais e internacionais voltaram a chamar a atenção para o facto de as mulheres continuarem a ter mais dificuldade em ascender a lugares de topo. Em Portugal, por exemplo, a participação da mulher no mercado de trabalho é das mais elevadas da União Europeia, mas apenas 16 por cento exerce cargos de chefia.

No ano passado, a maior parte dos 2,4 milhões de mulheres empregadas fazia parte do "pessoal dos serviços e vendedores" ou exercia profissões não qualificadas.

Num mundo laboral ainda dominado por homens, é mais fácil uma mulher chegar a cargos políticos, nomeadamente a Chefe de Estado, do que a presidente ou diretora executiva de empresas privadas multinacionais.

No entanto, existem apenas 10 mulheres no atual Governo - não chega a 19 por cento do total dos governantes - e no Parlamento, as portuguesas ocupam apenas 63 das 230 cadeiras do hemiciclo (27,4 por cento do total de deputados).

Mesmo quando desempenham funções iguais, existem fortes riscos de os salários serem diferenciados, com eles a ganharem mais do que elas. A disparidade salarial média entre homens e mulheres na União Europeia é atualmente de 18 por cento, sendo que em Portugal é de 9,2 por cento.

No entanto, dados da presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), mostram uma realidade ainda mais preocupante: as diferenças salariais rondam os oito por cento nas profissões indiferenciadas, mas "nos cargos de topo e lugares decisórios verifica-se mais de 30 por cento de diferença salarial entre homens e mulheres".

Apenas em um terço das famílias portuguesas, a mulher tem um rendimento superior ao do marido.

E na hora de ver os índices de desemprego, as mulheres aparecem como as grandes vitimas. A nova presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, Sara Falcão Casaca, lembrou que há uma "sobrefeminização" do desemprego e uma em cada quatro mulheres estão em situação de precariedade laboral.

Os números de queixas feitas à CITE mostram essa realidade: entre 2008 e 2009 quadruplicaram o número de denuncias, na maior parte das vezes relacionada com a não renovação de contratos de grávidas ou recém mães.

Em 2008, a CITE recebeu 36 queixas, um número que disparou no ano seguinte atingindo as 164 queixas.

Também os funcionários da Linha Verde da CITE viram duplicar o seu trabalho em 2009, ano em que atenderam quase duas mil chamadas relacionadas com problemas laborais de grávidas e recém mães ou pais em licença de paternidade.

No total, a procura de esclarecimentos telefónicos mas também por escrito junto da CITE duplicou: de pouco menos de dois mil em 2008 para mais de quatro mil em 2009.

E, quando termina o dia de trabalho, as mulheres ainda têm pela frente mais 16 horas de labuta semanal em relação aos homens, porque as lides domésticas ainda são uma tarefa "delas": "Quando olhamos para os gráficos de tempo de trabalho pago e não pago, as mulheres trabalham em média mais 16 horas por semana", contou à Lusa Natividade Coelho, presidente da CITE.

Para combater esta realidade, que é um problema mundial, a Comissão Europeia adotou na semana passada uma Carta da Mulher, onde se assume uma série de compromissos a cumprir até 2015, nomeadamente a promoção da igualdade no mercado de trabalho e igual independência económica para as mulheres e os homens. "


Fonte: Sapo / LUSA ( 08 de Março de 2010 )

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Leitura recomendada

Apesar de ainda só ter lido o resumo, devido à falta de tempo própria de quem frequenta um curso superior e algumas actividades extra, venho apenas deixar o link de um artigo científico que me pareceu desde logo interessante e bem estruturado (é só clicar):

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bad Reputation - Joan Jett



I don't give a damn 'bout my reputation
You're living in the past it's a new generation
A girl can do what she wants to do and that's What I'm gonna do
An' I don't give a damn ' bout my bad reputation

Oh no not me
An' I don't give a damn 'bout my reputation
Never said I wanted to improve my station
An' I'm only doin' good When I'm havin' funAn' I don't have to please no one

An' I don't give a damn
'Bout my bad reputation
Oh no, not me
Oh no, not me

I don't give a damn
'Bout my reputation
I've never been afraid of any deviation
An' I don't really care If ya think I'm strange I ain't gonna change

An' I'm never gonna care
'Bout my bad reputation
Oh no, not me

Oh no, not me

Pedal boys!

An' I don't give a damn
'Bout my reputation
The world's in trouble
There's no communication
An' everyone can say What they want to say
It never gets better anyway

So why should I care
'Bout a bad reputation
anyway
Oh no, not me
Oh no, not me

I don't give a damn 'bout my bad reputation
You're living in the past It's a new generation
An' I only feel good When I got no painAn' that's how I'm gonna stay

An' I don't give a damn
'Bout my bad reputation
Oh no, not me
Oh no, not

Not me, not me

sábado, 25 de setembro de 2010

A Moda do Anti-Feminismo

Quando percebi a dimensão do movimento Revolução Antifeminista, de Espanha, percebi que é algo que nos deve preocupar a nós, não só enquanto feminístas, mas, sobretudo, enquanto mulheres.

Hoje, encontrei um blog igualmente anti-feminísta, Lobo Sagrado, do Brasil, que me oferece a confirmação de que o movimento de Espanha não é, com certeza, um caso isolado.

Nos dois casos, pelas pessoas que estão envolvidas ou pelos comentários que recebem, percebemos que não são uma única pessoa, já não se representam a si próprios isoladamente, mas representam um grupo, um grupo de apoiantes do anti-feminísmo.

Este é o indício claro de que o feminísmo está em crise e que, se olharmos por muito mais tempo estes grupos com superioridade, indiferença ou desvalorizaçao, rapidamente nos sujeitamos a viver um século XXI segundo os "bons costumes" dos séculos passados.

Não basta PENSAR que somos iguais, temos de agir, temos de PROVAR que o somos.
Por muito que pensemos que não temos nada a provar a ninguém, que é óbvio que homem e mulher são iguais, isso não faz nada por nós. Ser mulher é estar em luta para que nos deixem sê-lo, caso contrário, arriscamo-nos a voltar a ser simplesmente fêmeas do homem.

Não é por um sobrinho dum primo duma tia da avó ajudar a mulher em casa e a respeitar enquanto ser humano que a mulher já terminou a sua luta, é necessário aprender a reconhecer as mentes machistas que continuam a querer sê-lo para, assim, conseguir lutar por nós e pela igualdade que ainda nao temos e que já nos querem tirar.

Se assim não for, corremos o risco de nos identificarmos com textos como este: Desabafo de uma Mulher Moderna.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"Revolução Antifeminista" - Afinal ELES é que são as vítimas

Tomei conhecimento deste movimento anti-feminista (de Espanha) há cerca de meio ano, através da Luna Karenine, que me mostrou em mãos o seguinte cartaz:



Nessa altura, o site divulgado no cartaz estava ainda em construção.

Hoje, voltei a visitar o site, que já pode ser explorado e que apresenta, aliás, conteúdos em português (bem como noutros idiomas).

Clicando em "Manifesto", é-nos proposta a leitura de um Manifesto Anti-feminista, do qual passo a mostrar alguns excertos:



"O feminismo na sua forma leve é um severo transtorno narcisista e egocêntrico da personalidade. É vaginismo mental, género centrismo, agressão, genocídio, histerismo, ódio à raça humana e a natureza. Uma mistura nada sã, perversa e malévola de psicopatia e de manifestado comportamento anti social. O feminismo é sociopatia. Na sua forma mais grave e não recuperável é consequência da incapacidade para a lógica e para a adaptação à realidade produzida pela deterioração e a mutação biológica que produz um defeito físico que limita a inteligência e as capacidades cognitivas a parâmetros não humanos. [...]

O feminismo é vaginocentrismo, generopatia, sexo centrismo, umbigo centrismo e megalomania. O feminismo é um vírus que ameaça a humanidade. A revolução anti feminista é o anti vírus. O Feminismo é uma tentativa de usurpação lésbica da feminilidade, da soberania individual das mulheres e de se apropriar pela força das sua mentes e da sua vontade. [...]

O feminismo não se discute, destrói-se. Revolução Anti-feminista somos a sociedade e sua representação. Somos a avançada da Civilização e a sua retaguarda. Representamos os homens aos que não conseguiram ajoelhar e simbolizamos a forma do seu sapato. As feministas são a pré-história. A Civilização foi, é e será o futuro. É algo ao que elas terão que se ir habituando. [...]

O feminismo é um vírus e deve ser tratado como tal. Pelo seu código genético não oculto para a avançada anti-feminista tem a potencialidade de se converter em surto. Mas nós não o permitiremos. Contra o feminismo, tolerância zero. [...] A revolução anti-feminista é [...] a resposta intelectual, real e social à imbecilidade genética e adquirida, ao crime e à barbaridade.

Revolução Anti-feminista proverá de meios físicos, teóricos e intelectuais para o combate para a erradicação viral e trabalhará sem descanso até definir o protocolo definitivo para o seu isolamento, neutralização e liquidação definitivas. Mesmo assim, proporá as actuações necessárias para evitar que estas circunstâncias nao voltem a ser possíveis nunca mais. Revolução Anti feminista é uma unidade de combate contra a mentira do feminismo porque no feminismo tudo é mentira.

Revolução Anti-feminista [...] Nega, obviamente, as evidentes e doentes mentiras sobre a historia, o seu revisionamento histórico, e a sua reconstrução orwelliana da realidade e a historia como tentativa necessário de demonstrar as suas imbecilidades por meio da comprovação científica da sua reinvenção homossexual da historia. [...]

Alguém que chama machista ou homófobico a um homem ou a uma mulher deve ser detido e posto de quarentena. Enquanto isto não acontecer, esta sociedade não será livre. [...]

Isto é uma guerra e só existem dois lados. A direita deve assumir as suas responsabilidades e começar a desmontar o Estado feminista, a derrogar as leis feministas e a reconhecer que o feminismo é o problema. O feminismo é a tampa e a mentira patológica das auto denominadas lésbicas e do lesbianismo. O ódio doentio que sentem para com o universo, a natureza e a realidade consequência da sua anormalidade biológica empurra-as até à agressão individual e social, a tentar subverter a realidade e a instaurar o feudalismo e a alienação social. [...]

Revolução Anti-feminista são os homens que mais uma vez estão a altura das circunstâncias. [...] A Civilização sobreviveu até agora e não vamos permitir que um punhado de doentes a destrua. À humanidade custou-nos muito chegar até aqui para tolerar uma invocação que nos leve ao Cretácico. A humanidade os derrotará. A vida uma vez mais vencerá. [...]

NOS somos a nova era: a era de Aquário. NOS somos o fim do feudalismo. NOS somos o fim dos tempos de 2012. Somos o fim e somos o princípio. Somos o vosso fim. [...] A revolução anti-feminista é o vosso karma. As leis inevitáveis e implacáveis de esse universo que tanto odeiam. É o limite a vossa loucura e o vosso delírio. Revolução Anti-feminista é a lei, a ordem, a estrutura, a paz social, a perseverança, a perduraçao, a determinação, o governo, a consecução e a Civilização. Tudo o que as feministas não são.

Nos não falamos nem com feministas nem com lésbicas. Não temos nenhum tipo de relação com as feministas: nem afectivas, nem de amizade, nem sexuais, nem emocionais, nem espirituais. E ainda menos com as feministas que publicamente reconhecem a sua homossexualidade. Também esperamos e agradecemos de nossas amigas, noivas e mulheres contínuas, habituais e públicas manifestações do seu anti-feminismo. A ambiguidade e a neutralidade não são anti-feministas. Mantenhamos limpas as nossas relações, as nossas vidas e a civilização! Se evitarmos o contacto com o vírus, evitaremos que nos parasite. [...]

É altura de que o Masculinado rompa as correntes e se livre da opressão e exploração a qual fomos submetidos pelas protofeministas, as feministas, e as homossexuais. Os homens sempre fizemos os trabalhos mais duros, perigosos, mortais e pior pagos e sempre morremos em massa para salvar as mulheres. Agora as homossexuais querem legisla-lo e fazer do esclavagismo e da exploração do homem lei e doutrina do Regime. Querem roubar-nos o futuro.

Incrivelmente, estamos de acordo numa questão com as feministas: as mulheres não são agressoras. Isso é irrefutável. Nenhuma mulher é agressora. Se é agressora é feminista. Se é feminista não é mulher. Da mesma forma que a agressão não faz parte da natureza feminina, o feminino não faz parte da natureza feminista. As feministas não são mulheres. [...]

é obvio que gostamos delas femininas, doces, princesinhas, entregues e vestidas de mulher. [...]

Pela Civilização, contra a barbárie!"


Fui verificar... Estamos no século XXI. A sério, estamos mesmo!!

Mas é obvio: os machistas não poderia permitir por muito mais tempo que a mulher lutasse pela igualdade. Alguém que se acha superior nunca iria permitir passivamente que outro alguém se assumisse ao seu lado.

A nós, mulheres, cabe-nos assumir ainda com mais força esta luta que é nossa e que é por nós, contra o elitismo masculino e o machismo no seu expoente máximo mascarado de "Revolução Anti-feminista" que veste o homem de vítima em prol da luta alegadamente contra uma definição de Feminismo que não corresponde à real. Esta luta é contra a mulher, contra a emancipação da mulher e a favor da abolição de tudo o que ela representa.


Não fiquem indiferentes! Isto é CASTRAÇÃO!



terça-feira, 31 de agosto de 2010

Essa Mulher


Interpretação de Elis Regina:



De manhã cedo, essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, 
lava a roupa, seca os olhos
Ah, como essa santa não se esquece
De pedir pelas mulheres,
pelos filhos, pelo pão
Depois sorri meio sem graça e abraça
Aquele homem, aquele mundo
que a faz assim infeliz.

De tardezinha, essa menina se namora
Se enfeita, se decora,
sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista,
isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia De algum dia, qualquer dia, 
entender de ser feliz.

De madrugada, essa mulher
faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama,
vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quantos homens enlouquece
nessa boca, nesse chão


Depois parece que acha graça e agradece 
Ao destino, aquilo tudo 
que a faz tão infeliz. 
Essa menina, essa mulher, essa senhora 
Em que esbarro a toda hora 
No espelho casual 
É feita de sombra e tanta luz 
De tanta lama e tanta cruz 
Que acha tudo natural. 

(Poema de Ana Terra, musicado por Joyce)


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Contradições


"Sinopse: A obra literária de Maria Teresa Horta tem frequentemente contribuído para alterar modelos estéticos ou comportamentais instituídos e tem muitas vezes sido, ao longo dos últimos trinta anos, um sinalizados de mudanças essenciais, quer de âmbito literário, quer inclusivamente de alcance social.

O romance A Paixão Segundo Constança H. traz consigo toda a violência e todo o sofrimento daqueles a quem coube em sorte viver num mundo de transformação, onde os valores tradicionais da família e os afectos que nos tínhamos habituado a considerar mais estáveis resvalam pouco a pouco para um terreno movediço e irrespirável.

A Bertrand Editora, que se orgulha de inaugurar com a presente obra a nova série da colecção "Autores da Língua Portuguesa", entende assim prestar homenagem a uma escritora de excepcional qualidade, que o circunstancialismo das modas e a desmemória de muitos remeteram nos últimos tempos para uma relativa e injusta obscuridade.

A Paixão Segundo Constança H. de Maria Teresa Horta"


Fonte: wook

 


Está longe o dia em que se pode exprimir a opinião livremente, sob qualquer forma.

Mesmo num mundo que gira em volta do capitalismo, o valor da tradição interfere sempre no limiar da aceitação...

[relacionado com o post anterior]



domingo, 22 de agosto de 2010

Teresa Horta acusa Bertrand de «censura»


(25 FEV 10 às 16:48)

"A escritora Maria Teresa Horta acusou hoje a editora Bertrand de «censura», por lhe ter «guilhotinado» 500 exemplares do romance A paixão segundo Constança H., depois de ter dito que o livro estava esgotado

«Se tinham os livros, porque é que não os punham nas livrarias? Se havia pessoas a querer comprar, porque diziam que estava esgotado? Não queriam que o livro estivesse à venda! Isto é censura! Faz lembrar os tempos de antes do 25 Abril. Censura a um autor, não é sequer a um livro…», lamentou a escritora, em declarações à Lusa, à margem do encontro literário Correntes d’ Escritas, que decorre na Póvoa de Varzim.

A Lusa contactou telefonicamente a Bertrand para conhecer a posição da editora em relação à acusação, mas não foi possível ainda recolher qualquer reacção de responsáveis da empresa.

Maria Teresa Horta alerta, ainda, que, «por lei, não podem guilhotinar um livro, sem consultar o autor», que tem o direito de adquirir os exemplares.

«Tenho o direito a comprar os livros. Quem lhes disse que eu não queria? Não tenho um exemplar na minha mão», indigna-se a escritora, dizendo que este episódio lhe deixou «uma sensação de morte muito próxima, como se fosse um filho nosso que está morto».

«Isto não é possível! É incrível que se guilhotinem livros. Ainda há seis meses Moçambique pedia livros. Vão mudar o acordo ortográfico para nos aproximar, mas há necessidade de livros em Moçambique e Cabo Verde e preferem guilhotiná-los. Isto para já não falar em bibliotecas e escolas pelo nosso país inteiro que querem livros e não têm», observa.

Foi a propósito de uma intervenção do público que assistia à 2ª mesa do encontro literário, sobre livros de Eugénio de Andrade que tinham sido guilhotinados, que Maria Teresa Horta resolveu falar publicamente sobre o assunto.

No final, explicou à Lusa que o episódio aconteceu «há três, quatro meses, no final do ano passado», mas «já vinha de trás», já que à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), a Bertrand dizia «que havia livros em armazém», mas, nas livrarias, «dizia que o livro estava esgotado».

«Durante muito tempo, o que aconteceu foi que a Bertrand não dava contas à SPA, dizendo que havia livros em armazém e, quando chegávamos as livrarias, diziam que o livro estava esgotado, inclusive nas livrarias Bertrand», descreveu.

De acordo com Maria Teresa Horta, uma professora de uma universidade brasileira chegou a procurar os livros para levar para o Brasil, «porque havia pessoas a fazer mestrado sobre o livro e não o tinham», e «na Bertrand do Chiado diziam que não havia o livro».

A escritora revela que, num almoço em que teve ao lado o director da Bertrand, perguntou-lhe «se estava esgotado ou não», tendo depois recebido um telefonema «a dizer que o livro estava esgotado e a perguntar se queria reeditar o livro com eles, só que, em vez da Bertrand, seria a Quetzal».

Maria Teresa Horta voltaria a falar com a SPA, que volta a contactar a Bertrand, e a editora responde dizendo que «afinal o livro não está esgotado».

Vários contactos depois, a escritora recebe um telefonema da SPA «a dizer ‘recebemos um e-mail, o seu livro acaba de ser guilhotinado, 500 exemplares’». "


Fonte: Lusa / SOL
Outras fontes: TSF, PÚBLICO, RTP, A BOLA, IOL.



Descobrir mais sobre Maria Teresa Horta:



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SUECA – O Jogo dos Homens


Depois de um bom churrasco (através do qual o macho conseguiu comprovar a sua masculinidade) para dar continuação ao dia dos homens, ele deve participar entusiasmadamente no jogo Sueca. É que, na verdade, a organização de um churrasco, por si só, não é suficiente para o homem se afirmar enquanto macho. Todas as acções e palavras que saem de uma boca masculina servem, precisamente, para demonstrar esse facto: “Eu sou homem, [piii]!”. Assim, este é um jogo de afirmação masculina, tanto que teimam em que permaneça um autêntico mistério para as mentes femininas.



Com o tampo da mesa limpo de quaisquer impurezas que possam sujar as cartas e com uma boa pinga por perto para encher o copo e aquecer a garganta (o vinho aqui não é considerado impureza, já que beber é de macho e, como este se trata de um outro adereço tão masculino, é considerado, antes, um agente purificador. Ser possuidor de cartas com manchas de vinho é um orgulho!), estão reunidas, com mais três jogadores, as condições necessárias para o início deste jogo épico.



Digo épico porque é bem ao jeito de uma batalha de gladiador. De súbito, no momento da distribuição das cartas, vemos o local onde decorre o jogo transformado numa arena romana, onde cada um dos intervenientes terá de lutar pela sua vida. O que ganhar ganha não só o carimbo da masculinidade, símbolo de uma superioridade em relação à mulher, mas também o carimbo da grandiosidade, símbolo de uma superioridade em relação a todos os homens, isto é, uma superioridade suprema.



Como vemos, este jogo tem um propósito muito específico que, ao contrário do que se pensa, não é o de servir o entretenimento masculino enquanto as mulheres arrumam e vasculham a vida dos vizinhos. O que leva um homem a querer participar na Sueca é o mesmo que o leva a assistir a um jogo de futebol com outros homens, em especial, de clubes directamente concorrentes do seu. Desmistificando, trata-se da oportunidade de poder insultar e gritar com os outros jogadores/espectadores sem, com isso, sofrer qualquer punição ou pôr em risco a amizade com qualquer um deles (um pouco à semelhança do que se vê diariamente na assembleia da república). Como se vai dizendo, “amigos, amigos, negócios à parte”.



Assim, para vencer os seus amigos (que visão tão viril), o homem socorre-se de vários meios. O primeiro, no fundo, o desencadeador de todos os outros, é precisamente o vinho. Embora não se perceba muito bem, este agente purificador tem também o poder de permitir a quem o bebe saltar a regra mais importante do jogo: o silêncio. A partir do momento em que o vinho torna possível a comunicação verbal durante o jogo, toda a sua dinâmica muda.



O recurso à fala torna, por consequência, praticável o recurso ao tão útil palavrão. Também a arte de usar um palavrão em cada frase, distribuição de cartas, jogada ou contagem de pontos é uma forma do macho se aproximar da arte de o ser. E, se conseguir proferir uma frase apenas com recurso a palavrões tratar-se-á de um herói, um exemplo a seguir, “Um grande homem!”.



O palavrão é, claramente, um incentivo à discussão intensa e com decibéis superiores aos de um qualquer estádio de África do Sul repleto de adeptos da vuvuzela. Estas discussões, normalmente, surgem quando a sua equipa perde e são utilizadas simplesmente para esclarecer quem é, dentro da equipa derrotada, o melhor jogador. É claro que, se a sua equipa perder, a culpa não é sua, é sempre do seu companheiro de equipa. Ora um diz que o outro é burro e que não percebeu os sinais, ora o outro diz que esse é que tem de ser mais específico. No final, nunca se chega a perceber realmente de quem foi a culpa. Percebe-se, apenas, que a outra equipa joga melhor, porque, como é óbvio, ganhou (não para os homens, porque, quando a outra equipa ganha é, simplesmente, porque teve sorte).



Porém, neste jogo onde a regra do silêncio é interrompida pela comunicação verbal, há, ainda, a resistência da comunicação não verbal. Falo dos murros e pancadas confiantes que o homem sente necessidade de dar numa ou outra jogada, de quando em quando. Calma, calma! Não o fazem por estarem chateados, fazem-no simplesmente para mostrar que têm a certeza que vão ganhar (mesmo que não a tenham). No fundo, acaba por funcionar um pouco como o bluff no Poker, com a pequena diferença de, na Sueca, ser inconsciente. Mas têm a certeza que vão ganhar porquê? Porque são superiores aos outros, são invencíveis. Por isso, têm de os ganhar, quanto mais não seja, pelo método da intimidação. “Se ele consegue dar um murro daqueles na mesa sem partir os ossos e sem se magoar, imagine só o que me pode fazer a mim se lhe ganho!!”



Assim, no final de comunicações verbais, palavrões, discussões e competições de murros na mesa em prol da salvaguarda do masculino em cada macho, apesar de haver uma equipa que, em termos numéricos, ganha, na prática, quem ganha é o macho e a masculinidade tão superiores quando comparados com a fêmea e a feminilidade. Desta forma, a mulher tem de felicitar o homem por este feito e cumprir a sua obrigação. Limpar a arena romana, a quaisquer horas que o combate tenha terminado, enquanto o homem se prepara calmamente e triunfante para o seu sono de herói, faz parte da sua recompensa.

domingo, 25 de julho de 2010

Aqui Dentro de Casa - José Mário Branco



Mariazinha fui, em Marta me tornei
Vou daquilo que fui pr'aquilo que serei


Foi há tantos anos, foi há dois mil anos
Que vi no amor o meu Cristo 

Que me mostraste um amor imprevisto
Que me falaste na pele e no corpo a sorrir

Meus olhos fechados, mudos, espantados
Te ouviram como se apagasses
A luz do dia ou a luta de classes
Meus olhos verdes ceguinhos de todo para te servir

Mariazinha fui, em Marta me tornei
Vou daquilo que fui pr'aquilo que serei

Filhos e cadilhos, panelas e fundilhos
Meteste as minhas mãos à obra
E encontraste momentos de sobra
Para evitar que o meu corpo pensasse na vida


Meus olhos fechados, mudos e cansados
Não viam se verso, se prosa
O meu suor era o teu mar de rosas
Meus olhos verdes, janelas de vida fechados por ti 


Mariazinha fui, em Marta me tornei
Vou daquilo que fui pr'aquilo que serei

Pegas-me na mão e falas do patrão
Que te paga um salário de fome
O teu patrão que te rouba o que come
Falas contigo sozinho pra desabafar

Meus olhos parados, mudos e cansados
Não podem ouvir o que dizes
E fico à espera que me socializes
Meus olhos verdes, boneca privada do teu bem-estar 


Mariazinha fui, em Marta me tornei
Vou daquilo que fui pr'aquilo que serei

Sou tua criada boa e dedicada
Na praça, na casa e na cama
Tu só me vês quando vestes pijama
Mas não me ouves se digo que quero existir


Meus olhos cansados ficam acordados
De noite chorando esta sorte
De ser escrava prá vida e prá morte
Meus olhos verdes vermelhos de raiva para te servir


Mariazinha fui, em Marta me tornei
Vou daquilo que fui pr'aquilo que serei

A tua vontade, justiça igualdade
Não chega aqui dentro de casa
Eu só te sirvo para a maré vaza
Mas eu já sinto a minha maré cheia a subir 


Meus olhos cansados abrem-se espantados
Prá vida de que me falavas
Pra combater contra os donos de escravas
Meus olhos verdes que te vão falar e que tu vais ouvir

Mariazinha fui, em Marta me tornei
Sei aquilo que fui e que jamais serei



VER TAMBÉM:
interpretação de José Mário Branco, Mafalda Veiga e João Pedro Pais no Répública de Abril (RTP);
interpretação de Mafalda Veiga e João Pedro Pais em Lado a Lado;
interpretação de Lena de Àgua.



É isto que nos proponho! 


SEJAMOS TODAS "MARTAS"!!,

"pra combater contra os donos de escravas".




sábado, 17 de julho de 2010

Reflexão

Algumas pessoas têm comentado comigo que o meu discurso no último post foi algo extremista. Posto isto, queria fazer uma pequena precisão publicamente para me certificar de que todos entendem a minha posição.

Quando me refiro ao homem e à mulher, refiro-me ao homem e à mulher modelo que existem ainda hoje, sem, com isso, perder a consciência de que existem excepções. Algumas delas são bastante positivas, no sentido em que existe, entre o casal, uma relação de igualdade pura, sem complexos ou disfunções. Outras são negativas e não favorecem nada a imagem da mulher, ocupando, esta, um papel de superioridade, que, como percebemos, também não é positivo. Com isto, pretendo dizer que, apesar de ter consciência de que existem excepções à regra, o modelo é aquilo que procurei, no post anterior, relatar de uma forma um tanto humorística, mas consciencializada.

Consciencializar é, no fundo, o propósito deste blog. Eu tenho plena noção que a realidade hoje, na maioria das casas (diariamente e não só em dias de churrasco), é que tanto a mulher como o homem têm emprego e trabalham, mas, quando chegam a casa, quem está cansado é o homem. A mulher, essa, nem que esteja mais cansada do que ele, não o pode estar, porque é a ela que cabe cozinhar e tratar das tarefas domésticas. E a mulher, está consciencializada em relação a isso?

[O chefe faz tudo menos cozinhar.
- é para isso que servem as esposas!
Eu dou à minha mulher um chefe Kenwood]

Quer gostemos, quer não, este é o modelo, a regra, a norma, o habitual, mas não é o normal. É disto que temos de nos consciencializar e não das excepções que, essas, todos conhecemos.

É o modelo que é preciso mudar!



segunda-feira, 5 de julho de 2010

CHURRASCO - O dia dos homens



Sempre que vou a um chamado almoço de família, volto para casa com pensamentos feministas a torturar-me a paciência, especialmente se esse almoço foi um churrasco.


É, de facto, interessante observar a ansiedade dos machos perante a possibilidade de realização de um churrasco. É como se o seu clube de futebol estivesse na final da liga dos campeões e o jogo fosse acontecer nesse dia. Tem de ser tudo preparado até ao mais ínfimo pormenor, não vão os santinhos zangar-se com eles e, por maldição ou simplesmente por azar (mas nunca por culpa deles) as coisas correr mal e ninguém gostar do churrasco.


É que, neste dia, quem faz o almoço são os homens. Não é qualquer ser humano que tem capacidade para domar o fogo e o peso de uma grelha de ferro. Fazer um delicioso churrasco requer a insubstituível força masculina! e macho que é macho não hesita em comprovar que o é, agarrando-se à lenha, à grelha e às sardinhas, salsichas ou fêveras que lá coloca, qual cachecol clubista, como se hoje ficasse decidido se ele é realmente macho ou não (dependendo do sucesso do churrasco).


Mas não se pense que este é o único motivo pelo qual os homens hoje andam de grelha em riste, eles também o fazem para ajudar as mulheres! hah... hah... hah...! Ajudar as mulheres... esta está boa! Realmente, gostaria de ver, pelo menos uma vez na vida, um homem que se ache macho (porque ajudar as mulheres é tarefa de mulher, logo, é gay) a fazer a jantarada enquanto a mulher fica esparramada no sofá muito descansada a ver tv e a engolir cerveja e tremoços.


De facto, mesmo no dia em que decidem aproximar-se de um objecto de cozinha, o trabalho é todo da mulher. Veja-se que, quem tempera as sardinhas, salsichas ou fêveras é obviamente a mulher. E dizem eles: ah, mas então só fazem isso. Não dá grande trabalho... O que? só fazemos isso? Então comam sardinhas com sardinhas e salsichas com fêveras... É claro que a leveza dos tachos não se compara ao peso da grelha e, desses, os homens preferem manter a distância, não  vão esses objectos tão estranhos e femininos pôr em causa a sua masculinidade. 


Na verdade, a mulher, até neste dia, está confinada à cozinha. Depois de temperar o almoço da grelha, tem de fazer o almoço do tacho. Trata então do arroz, das batatas, da salada, das entradas e da sobremesa e ainda trata de pôr a mesa. ah, mas não é nada que não seja obrigação dela! O macho não pode fazer tudo, o fogo é muito complicado de gerir e se a grelha é deixada à mercê das chamas, pode acontecer uma desgraça (não ao almoço, porque, graças à mulher não faltaria o que comer, mas antes à sua credibilidade enquanto macho).


Chega o momento da verdade! o momento em que toda a gente se senta à mesa e faz o teste àquele macho. Ah! mas que maravilha, está óptimo! O homem, de facto, tem jeito para estas coisas! Graças a ele, o almoço está fantástico, mas que boda! Não me vão dizer, senhoras, que virar os animaizinhos na grelha merece tantos louros... No entanto, todos lhe atribuem o mérito, incluindo as senhoras dos temperos e dos tachos, que fizeram, vá lá, (quase) tudo.


No final da sobremesa, cabe à mulher arrumar a bagunça que ELA fez, (entenda-se arrumar e lavar a louça!) Então, mas claro, quem sujou tudo foram ELAS! e, bem vistas as coisas, coitadinhos dos homens se iam agora, cansadíssimos de virar a carne na grelha e de levar com aquele calor infernal enquanto bebiam umas quantas cervejas, arrumar a desordem que as mulheres fizeram. Eles fizeram o trabalho todo! As mulheres agora que trabalhem!
Arrumem, minhas senhoras submissas, arrumem que, por eles, comiam a carninha de churrasco no pão e ainda poupavam no arroz, nas batatas, na salada, nas entradas, nas sobremesas, e ainda na água e no detergente...

Arrumem, minhas senhoras submissas que, hoje, é o dia dos homens!



quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Visitem o Arco-íris das Maravilhas, onde Luna Karenine explora temas actuais com muito interesse.

Poderão encontrar mais sobre Emilie Autumn e Direitos dos Animais.

Vejam vídeos sobre a industria doentia McDonalds.


CLICA:

terça-feira, 29 de junho de 2010

Discriminação da Mulher = Discriminação dos Animais


"Bem, eu nunca escrevi nada tão literal como o "Meat Is Murder", de Morrissey, mas este é um tema primordial explorado na maior parte do que eu escrevo, e eu, pessoalmente aplico essa premissa tanto para o feminismo como para os direitos dos animais. Eu sei que pode soar estranho querer ligar as duas coisas, mas vou tentar explicar a forma como eu vejo isto. Para começar, vou ser uma completa estúpida pomposa e citar Gandhi por um segundo: "A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser julgados pelo modo como os seus animais são tratados." Assim, a forma como a sociedade trata os animais está intimamente relacionada com a forma como trata as mulheres e o fato de não gostarem da maneira que isso soa não faz disso menos verdade. A forma como uma sociedade trata os seus animais tem uma conexão directa muito óbvia com a forma como trata desumanamente as mulheres, porque o que é desumano é desumano, e as atitudes da classe dominante (ou do género, neste caso) sobre uma criatura considerada inferior são as atitudes que se estendem para todas as coisas consideradas como tal.

Assim, não é de admirar que, observando as mulheres e os animais, na sociedade "civilizada" de hoje, o maior dos males esteja ainda acima de ambos? Pelo menos quando uma vaca é abatida, não é pessoal. Quando uma mulher é abusada, geralmente é, e este é um assunto sobre o qual escrevo constantemente."


( Emilie Autumn em entrevista ao PETA2 )


Musica e letra de "meat is murder", por The Smiths, com tradução:





(TRADUÇÃO DE:)

"Well, I've never written anything quite as literal as Morrissey's "Meat Is Murder", but there is an overriding theme of the underdog fighting back in most of what I write, and I personally equate that premise to both feminism and animal rights. I know it may sound strange to connect the two, but I'm going to try and explain the way I see it. To start, I'm going to go ahead and be a total pompous ass and quote Gandhi for a second: "The greatness of a nation and its moral progress can be judged by the way its animals are treated." Now, a society's treatment of animals is closely related to their treatment of women, and the fact that I don't like the way that sounds doesn't make it any less true. The way a society treats its animals has a direct and glaringly obvious connection to its treatment of women because inhumane is inhumane is inhumane, and the attitudes of the ruling class (or gender in this case) on one creature considered inferior are the attitudes it extends toward all things considered such.

And so is it any wonder that regarding women and animals, in our present "civilized" society, the greatest of evils are still enacted upon both? At least when a cow is slaughtered, it isn't personal. When a woman is abused, it usually is, and this is something I write about constantly."


( Emilie Autumn to PETA2 )

domingo, 27 de junho de 2010

A mulher ainda não é mulher


"As leis mudaram muito, mas as mentalidades muito pouco. É como a pele: a epiderme tem bom aspecto, mas a carne por baixo está doente". Maria Teresa Horta


Por causa do bom aspecto da epiderme a mulher convenceu-se (ou deixou-se passivamente convencer) de que a luta pelos ideais feministas terminara e que bastaria cultivar memórias. Torna-se urgente um novo Segundo Sexo, uma nova obra que entre nas mulheres como um grito e que as consciencialize de que a opressão continua e que, bem vistas as coisas, é sentida por todas quotidianamente. É necessário que essa obra não seja unicamente dirigida às mulheres, mas sim a todos os seres humanos, para que a mudança de mentalidade se dê não somente nas mulheres,  mas também nos homens que tendem a ridicularizá-las. É, ainda, essencial que se transmitam novas hipóteses, novos modelos de educação que não distanciem o sexo feminino do masculino, porque, afinal, é no berço que a discriminação se inicia. Torna-se, de facto, eminente a necessidade de renovar a mentalidade social e a educação com a qual provê as crianças, uma vez que serão, elas próprias, provedoras de uma educação idêntica à que receberam. É igualmente fundamental que a questão da liberdade sexual da mulher não seja esquecida, pois esta não foi uma luta que terminou com o final da vaga hippie. É indispensável, também, alargar este combate à sociedade mundial e não agir apenas localmente. 

Tudo isto se afigura como um processo lento e difícil, mas não será, com certeza, impossível se a mulher não desistir de se activar, isto é, não desistir de si. A mulher deve combater a passividade e consumir exaustivamente os seus direitos, mas não se deve conformar com eles, comparando o seu bem estar actual com as mutilações físicas, morais, sociais e contra a integridade de que eram (e ainda são) vítimas as mulheres. Deve, antes, inspirar-se neles para observar mais atentamente o seu quotidiano, as mutilações de que (ainda) é vítima, perceber porque isso (ainda) acontece e, finalmente, revoltar-se numa rebelião pacífica, mas não passiva, em busca de uma igualdade não só aparente nas leis, mas assumida na mentalidade de toda a sociedade. Porque, hoje, a mulher ainda não é mulher.