domingo, 28 de agosto de 2011

Os Clã e o seu manifesto anti-patriarcal para... crianças!

Os Clã têm um novo álbum, o Disco Voador, que surgiu de um convite para fazer um espectáculo direccionado para crianças no âmbito do festival Estaleiro. Os próprios escrevem: «"Disco Voador" é um trabalho feito a pensar no universo dos Supernovos, nos seus sonhos e medos, amigos e amores, integralmente composto por canções originais, lúdicas e irreverentes, cheias de histórias de crianças e para crianças» (Fonte: Wikipedia). Porém «Seguros de que nenhum humano mata totalmente a criança e o adolescente que mora dentro de si, os Clã sabem que este Disco Voador se destina descaradamente a todos os públicos. As aspirações, os desejos, os temores, as inquietudes dos supernovos são sérias e densas. A galeria de figuras que fala nestas canções quer exprimi-las o mais livremente de que é capaz. Ou seja: escutando e dando a ouvir a música das esferas que habita o seu mundo interior.”» (Fonte: Site Oficial).

Por isso, neste álbum existem músicas que tratam também de assuntos sérios, como, por exemplo, os dogmas a sociedade patriarcal que insiste em acentuar as diferenças entre rapaz e rapariga e que não vê com bons olhos as relações homossexuais. A culpada é Regina Guimarães. Sobre ela, Manuela Azevedo (vocalista dos Clã) tem a dizer que «pensámos que a Regina podia ser uma autora interessante para este desafio. Conhecemos algumas coisas que ela já escreveu para crianças e tinham características que nos agradavam muito. Eram desafiadoras, eram politicamente-incorrectas. Ou seja, olhavam para os miudos como gente inteligente, que gosta de ser desafiada, que gosta de ser espicaçada e não como uma espécie de espectadores distraídos em que nós temos de lhes dar o beábá todo muito direitinho e sempre tudo muito bonito, sempre tudo muito perfeitinho, com as pontas todas arredondadas porque eles são muito frágeis ou porque eles são distraídos e não sei quê. Ela tem uma maneira de olhar para as crianças com respeito por aquilo que eles são capazes.» Helder Gonçalves (compositor da maioria das músicas e músico da banda) acrescenta «Das primeiras coisas que eu pensei quando começamos a trabalhar neste projecto foi nós não vamos simplificar as coisas».


Fonte: Estaleiro TV (clique para ver entrevista completa)



Deixo-vos este magnífico manifesto:




Arco-Íris

Há meninas em rebanho
E há bandos de rapazes
Elas são sossegadinhas
Eles devem ser audazes

Dizes tu que não condizem
Cor de rosa e azul celeste
Cada sexo em seu lugar
Foi assim que me fizeste

Mas então porque razão
Ainda vês com maus olhos
O homem que ama outro homem
A mulher que ama mulher

Se os separas à nascença
E fazes tanta questão
De manter a diferença
Entre a irmã e o irmão

Viva, a maria-rapaz
E o rapaz que não é peste
Viva a roupa que baralha o sexo
De quem a veste

Viva todo o arco-íris
E a cor se mistura
Sete quintas, meias tintas
Viva a fúria e a doçura

Não me voltes a dizer
Que as crianças a crescer
Precisam de copiar
O papá e a mamã

Deixa ser eu a escolher
Por quem me perco e me dano
Porque eu amo a minha irmã
E amo também o meu mano

Será que nunca sentiste
Que somos pó do universo
Sujeitos à atracção
Do que é igual e diverso

E será que não gravitas
À volta de quem te ama
Use vestido ou gravata
Borboleta busca chama

Amar sem olhar a quem
Nem ao sexo, nem à cor
Não é vício nem pecado
Não é mau nem mau-olhado

Amar sem medo ou vergonha
Amar a torto e a direito
Amar sem manha nem ronha
Não é tara, nem defeito

Amar sem olhar a quem
Não é tara, nem defeito
Amar sem olhar a quem
Amar a torto e a direito

Amar sem olhar a quem
Não é tara, nem defeito
Amar sem olhar a quem
Amar a torto e a direito


domingo, 21 de agosto de 2011

Senhora

- Senhora, o que te faz tão franzida
Tão refeita
Tão suspeita?
Quem escolhe a mansa vida
Verá bem o que rejeita.

- Vai e traz-me um cabelo
Dum dragão enamorado
Pois se me falas de amor
Quero vê-lo feito e provado.
à volta dar-te-ei guarida
Sentar-te-ei a meu lado.

- Senhora, o que te traz tão sujeita
Tão faltosa
Suspirosa?
Quem fia, borda, ajeita
Murcha cedo como a rosa
Não tem ciência nem prosa
Não sabe o nome que aceita.

- Vai roubar o setestrelo
A um deus mau e zangado
Pois se me dizes saber
Quero prová-lo, e habitado.
à volta dar-te-ei suspeita
De que não estás do meu lado.

- Senhora, o que te jaz tão famosa
Tão ausente
Tão pugente?

- Quem escolhe, parte e rejeita.
Quem parte, vai e não colhe.
Quem vai, faz e não ama.
Quem faz, fala e não sente.
São teus olhos os sujeitos
São de granito os meus peitos.
Quem fia, borda e ajeita,
Quem espera, fica e não escolhe,
Quem cala, quieta na cama,
Sou eu deitada a sentir
Tua roda de fugir
Tua cabela em meu ventre.

11/3/71

As Três Marias - Novas Cartas Portuguesas
( Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa )

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

E orgulhamo-nos nós de viver na "velha Europa"...


"Italiana raptada e violada durante três dias em Lisboa 

A italiana, de 25 anos, foi sequestrada, agredida e repetidamente violada durante três dias numa pensão em Lisboa. O agressor foi presente a tribunal mas o juíz deixou-o sair em liberdade.

Uma turista italiana, de 25 anos, foi sequestrada em Lisboa e repetidamente agredida e violada durante três dias, numa pensão do centro da capital.

Na passada sexta-feira a recém-licenciada chegou a Lisboa, após uma viagem pela Europa. Junto à estação de metro de Arroios, um homem, de 42 anos, perguntou-lhe se precisava de ajuda e ofereceu-se para lhe indicar o caminho para o hotel, mas acabou por leva-la para pensão onde estava hospedado. O rapto durou até domingo, dia em que a jovem conseguiu fugir ao terror, avança o "Correio da Manhã".

As perícias levadas a cabo pela Polícia Judiciária e Instituto de Medicina Legal não deixam dúvidas sobre a violação e repetidas agressões que deixaram a jovem com o corpo todo marcado.

O homem foi presente ao tribunal, mas o juiz deixou-o sair em liberdade, ficando apenas obrigado a apresentar-se quinzenalmente na esquadra.

A jovem turista está a receber acompanhamento psicológico e apoio da embaixada italiana em Portugal."


Fonte: Expresso


Peça da SIC: http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article724124.ece


É de lamentar que situições como esta, de rapto e violação desta forma cabal, aconteçam em Portugal. No entanto, é ainda mais vergonhoso para o nosso país que o homem que praticou tal acto, com o acréscimo de estar ilegal no país, seja simplesmente libertado. O homem que violou praticou um crime horrendo contra aquela mulher italiana, o juiz, ao libertar o primeiro, praticou um crime horrendo contra todas as mulheres do nosso "pequeno e pacato" país...