sábado, 30 de junho de 2012

As SlutWalks estão de volta: porque sair à rua de mini-saia não é um convite à violação


As galdérias marcham sábado e domingo no Porto e em Lisboa. Pela dignidade humana, contra a "rape culture".

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Sem "dresscode", do Porto a Lisboa

Os objectivos são os mesmos, mas, este ano, o discurso "está mais refinado e mais inclusivo". Não há aqui "dresscode", atenção. As pessoas são convidadas a vestirem-se como querem, desnudadas ou não, "mais ou menos galdérias". "A ideia não é 'vamos fazer uma marcha estranha, vestidos de forma estranha' para chocar as pessoas. Este choque, quando aparece, é uma espécie de convite para que as pessoas se perguntem o que é convencional, se vermos uma mulher de mini-saia é realmente chocante."

Antes do protesto, há que ganhar energias. Por isso, no Porto a marcha é antecedida por um "piquenique galdério". O ponto de encontro é na Praça dos Leões, às 19h de sábado, 30 de Junho. O convívio tem um propósito: conversar, fazer cartazes e também "atingir uma faixa mais nova e também famílias", ressalva a organização. "Temos tido 'feedback' de mães que querem levar as filhas de oito ou dez anos para que elas ganham a noção do direito que têm de viver no espaço público como querem."

Segue-se a marcha propriamente dita, com partida marcada para as 22h no mesmo local. Até ao término na Praça D. Filipa de Lencastre, passa pela Praça Guilherme Gomes Fernandes, Rua Galeria de Paris e Rua Cândido dos Reis.

Em Lisboa, o protesto está marcado para domingo, 1 de Julho, às 15h. Começa no Largo de Camões e atravessa a Baixa até ao Martim Moniz. A organização espera centenas de pessoas nas duas marchas, mas, também por ter sido organizado principalmente via Facebook, prefere não precisar números.


FONTE: P3 - Público On-Line


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Quatro queixas de violência doméstica por hora apresentadas às autoridades


O Observatório de Mulheres Assassinadas registou em 2011 em Portugal o homicídio de 27 pessoas num contexto de conjugalidade e relações de intimidade, mas as queixas de violência doméstica apresentadas às autoridades são, em média, de quatro por hora.

O observatório, que faz a contabilização das vítimas a partir das notícias da imprensa, conclui que, apesar de ter havido uma diminuição no número de homicídios identificados relativamente a 2010 (43), em mais de metade deles, e das tentativas registadas, "existia violência na relação e algumas das situações haviam mesmo sido reportadas às entidades competentes".

Constituído em 2004 como grupo de trabalho da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, o observatório revela que neste período 245 mulheres foram mortas por homens com quem tinham, ou tiveram, uma relação amorosa. Mas se juntar a esse número a violência intra-familiar, os assassinatos de mulheres sobem para 278.

Segundo o relatório de monitorização da violência doméstica da Direcção Geral da Administração Interna (DGAI), no primeiro semestre de 2011 foram registadas pelas forças de segurança 14.508 queixas, o que correspondeu a uma diminuição de 4,6 por cento relativamente ao período homólogo de 2010.

Em todo o ano de 2010 - segundo a DGAI - a violência doméstica constituiu a terceira tipologia criminal mais participada em Portugal (a seguir a "outros furtos" e a "furto em veículo motorizado"), representando 7,3 por cento do total das participações à GNR, PSP e PJ.

Nesse ano foram registadas 31.235 participações de violência doméstica pelas forças de segurança, correspondendo, em média, a 2.603 participações por mês, 86 por dia e a quatro por hora.

Quanto às 58 sentenças em processos-crime por violência doméstica comunicadas à DGAI no primeiro trimestre de 2011, 52 por cento foram absolvições e 48 por cento condenações, mas entre as penas aplicadas apenas seis por cento foram de prisão efetiva.

Segundo dados do Ministério da Justiça fornecidos aos investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que realizaram o estudo "Trajectórias de Esperança: itinerários institucionais de mulheres vítimas de violência doméstica", a pena mais aplicada nestes casos continua a ser a pena de prisão suspensa simples (em 2000, esta pena representou 92 por cento das penas aplicadas e, em 2009, 38 por cento).

"Esta pena, por não implicar qualquer dever de sujeição ou regra de conduta por parte do arguido, conduz, para grande parte das pessoas entrevistadas no estudo, a um certo sentimento de impunidade que tem consequências naquele conflito específico, com o agressor a sentir que não lhe foi aplicada qualquer pena", concluem os investigadores.

Em 2011 a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um total de 19.944 factos criminosos que se refletiram em 8.192 processos de apoio relativos à problemática de violência doméstica.

Segundo o relatório da APAV, a que a agência Lusa teve acesso, o autor do crime foi, em 83 por cento dos processos de apoio, do sexo masculino, e situava-se predominantemente na faixa etária entre os 35 e os 40 anos.


FONTE: Jornal de Notícias On-Line.

SLUTWALK - A Crónica de Daniel Cardoso (P3)


As galdérias (também) marcham

Esta marcha não é só para quem se identifica como "slut", galdéria, puta, fácil, badalhoca. É para quem se identifica com a luta contra a discriminação e violência de sexo e género, contra a culpabilização das vítimas dessa violência

Sou activista. Sou feminista.

No ano passado, um polícia de Toronto aconselhou um grupo de mulheres a não se vestirem de forma “slutty” para não serem violadas. A consternação que isso gerou resultou em muitas SlutWalks por todo o mundo. Eu estive na de Lisboa, com muitas outras pessoas — mulheres, homens, e não só — de várias nacionalidades, etnias, raças, religiões e configurações corporais, e este ano marcharemos pela segunda vez.

Há quem diga que “puta”, “galdéria”, “fácil” e “desavergonhada” (possíveis traduções para a palavra "slut") são e serão sempre insultos. Sim, são insultos: vindos de quem acha que tem o direito de julgar a forma como as mulheres andam vestidas, de as culpabilizar pela forma como se comportam, de quem acredita realmente que se as mulheres se vestirem desta ou daquela maneira vão deixar de ser violadas.

Só que as palavras (e os seus significados) não são escritas em pedra. As palavras são fluidas. E se há uma coisa que os movimentos LGBT nos têm ensinado ao longo dos anos, é que os insultos podem ser reapropriados. “Gay” e “queer” são talvez os dois exemplos mais famosos: insultos reapropriados, palavras para as quais se construíram novos significados.

As galdérias fazem o mesmo. Se uma mulher é chamada de “galdéria” por usar mini-saia, pintar os lábios ou até mesmo por querer fazer sexo com uma pessoa mas não com outra, então “galdéria” não descreve realmente nada. Invertamos então os factores: se eu me chamar a mim mesmo “galdéria” por afirmar a minha auto-determinação como pessoa com um corpo que é meu, ou por considerar que tenho o direito a vestir-me das mais variadas formas sem ser alvo de agressão por isso – continuo sem descrever um comportamento objectivo, mas transformei o insulto em orgulho.


Operação por frustração: se aquilo com que me querem insultar é motivo de orgulho, como é que o insulto me insulta?

Agora, uma importante ressalva: não é com um passe de mágica que os insultos deixam de magoar. Não é por haver esta reapropriação que os insultos deixam de pretender magoar. E é essa pretensão que tem que acabar, porque ser-se "slut" (na nossa acepção) não tem nada de mal. Ao mesmo tempo, convém não esquecer que nem todas as pessoas são insultadas desta maneira, ou têm a liberdade de conseguir responder desta forma. Reconheço, como homem branco de classe média e educação superior, que estou a falar a partir de uma posição privilegiada. E que quem marcha ao meu lado também poderá ter parte dessas posições, ou outras — ao mesmo tempo que também tem muitíssimas posições de falta de privilégio.

Por isso, esta marcha não é só para quem se identifica como "slut", galdéria, puta, fácil, badalhoca. É para quem se identifica com a luta contra a discriminação e violência de sexo e género, contra a culpabilização das vítimas dessa violência. Esta marcha é para quem acha que as mulheres, os homens, e as pessoas de outros géneros devem ter a liberdade de ser "sluts".

Porque "não" é "não" e, se/quando for “sim”, avisamos.


Daniel CardosoFonte: P3 - Público On-line

SLUTWALK 2012 - Porto e Lisboa


30 de JUNHO de 2012 no Porto:

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«Slutwalk Porto, marcha das galdérias, um movimento pela autodeterminação sexual, pessoal e sexualidade afirmativa, pelo retomar dos direitos sobre o próprio corpo, pela ocupação livre do espaço público pelas mulheres e término da rape culture e culpabilização das vítimas.

Nascido em Toronto, após um elemento da polícia se ter referido a casos de violações como culpa das vítimas, devendo estas usarem decotes mais pequenos e saias mais compridas, usa o termo Slut, Galdéria, vadia, como nomeação de poder que alerta para esta necessidade de educar para o respeito, de focar a educação masculina na não violação.

Pede um focar nos culpados e não nas vítimas, alerta e consciencializa para os casos de assédio e para a perda de espaço público sofrida pelas mulheres enquanto se continua a estimular uma cultura de medo.

Não é Não, sempre que for dito.»

(mais informações aqui.)
Fonte: Slutwalk Porto.
1 de JULHO de 2012 em LISBOA:



« [...] As pessoas envolvidas na SlutWalk são feministas – mulheres, trans*, homens, genderqueer, entre outras identidades. O feminismo não trata apenas de ‘direitos das mulheres’, trata da dignidade humana para todas as pessoas, independentemente do seu sexo ou género. É essa dignidade que é violada quando se culpam as vítimas de violência sexual e de género, quando se atacam pessoas por aquilo que elas fazem com o seu próprio corpo, tempo, roupa, palavras e atitudes.

Convém, no entanto, não esquecer que as mulheres* são ainda as mais claramente visadas pela violência de género: em 2011, mais de meia centena de mulheres foram vítimas de homicídio ou tentativa de homicídio por parte de companheirxs ou esposxs (dados da UMAR) e 40% das mulheres com mais de 60 anos também é alvo de abusos (dados da Univ. do Minho). O corpo de qualquer pessoa deve ser propriedade da própria pessoa. Recusamos a existência de proprietários de primeira (geralmente, homens), de segunda (geralmente, mulheres) e de terceira (geralmente, pessoas trans*).

Se SLUT – galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca, fácil – é uma pessoa que decide sobre o seu corpo, sobre a sua sexualidade, e que procura prazer (nas suas várias formas), então, somos SLUTs, sim!

Não queremos piropos sexistas, não queremos paternalismo, não queremos violência sexual. Dizemos não, por mais cidadania. Dizemos não, por mais democracia. Dizemos não, pela possibilidade de todas as pessoas poderem habitar os espaços públicos e privados em igual segurança, com igual respeito. Dizemos não à dominação patriarcal do espaço físico onde as mulheres* se movimentam. Dizemos não, por mais liberdade.»



(mais informações aqui.)
Fonte: Slutwalk Lisboa.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Governo alemão quer dar incentivos a pais que cuidem dos filhos em casa


A ideia da "mulher doméstica" não seria "bem aceite" em Portugal, segundo as conclusões dos estudos disponíveis, considera a socióloga Sofia Aboim.


As famílias alemãs que cuidem dos filhos em casa e não os coloquem em infantários ou outros locais, obterão um subsídio do Estado a partir de 2013: 100 euros por cada filho entre os 13 e os 24 meses. A partir de 2014, esse subsídio aumentará para 150 euros mensais por cada filho no seu segundo ou terceiro ano de vida. É o que estipula um projecto lei que o Conselho de Ministros enviou para o Parlamento alemão.

Em Portugal, os estudos disponíveis indicam que uma medida semelhante “não seria muito bem recebida”, diz a socióloga Sofia Aboim do Instituto de Ciências Sociais (ICS). Em declarações ao PÚBLICO, esta investigadora nota que “a ideia da mulher doméstica” já não é “bem aceite” pela mulher portuguesa. O trabalho pago “foi algo incorporado pelas mulheres portuguesas e revela-se extremamente importante como meio da sua autonomia”, diz.

Frisando a diferença comparativamente à realidade alemã em que “a tradição é o incentivo da permanência da mulher em casa em vez do aumento dos equipamentos”, os portugueses, à semelhança dos escandinavos, dão mais ênfase à igualdade do género na inserção do mercado de trabalho”, refere Sofia Aboim, salientando ainda que, no âmbito das políticas públicas, se têm registado “bastantes progressos” em Portugal, como a possibilidade dos homens também poderem gozar a licença de maternidade

Na Alemanha, o anúncio das medidas de incentivo à educação das crianças em casa nos primeiros anos, foi recebido com reservas por parte de alguns sectores. Uma das principais críticas aponta o gasto público decidido por um Governo defensor da austeridade. A administração federal pagará 300 milhões de euros em 2013 e 1 100 euros em 2014.

A este motivo junta-se ainda o incentivo às mães alemãs para ficar em casa em vez de ir trabalhar fora.

Prevê-se que o projecto lei enviado para o Parlamento, deverá contar com a resistência da oposição e eventualmente também de alguns deputados da União Democrata Cristão da chanceler Ângela Merkel.

Os sindicatos da oposição acusam Merkel de "compadrio" ao desviar atenção e dinheiro das necessidades reais nas escolas públicas.

O Partido Social Democrata quer suspender a nova lei. A ministra da Família, Kristina Schröder (CDU) considera que esta legislação não é incompatível com a promoção dos jardins de infância alemães.

De acordo com as estimativas dos municípios alemães, no país há um défice de cerca de 160 000 lugares públicos para as crianças mais pequenas. Para o líder parlamentar dos Verdes, Renate Künast, o governo "agiu de acordo com uma ideologia, independentemente dos problemas das pessoas."


FONTE: Público On-line