domingo, 27 de junho de 2010

A mulher ainda não é mulher


"As leis mudaram muito, mas as mentalidades muito pouco. É como a pele: a epiderme tem bom aspecto, mas a carne por baixo está doente". Maria Teresa Horta


Por causa do bom aspecto da epiderme a mulher convenceu-se (ou deixou-se passivamente convencer) de que a luta pelos ideais feministas terminara e que bastaria cultivar memórias. Torna-se urgente um novo Segundo Sexo, uma nova obra que entre nas mulheres como um grito e que as consciencialize de que a opressão continua e que, bem vistas as coisas, é sentida por todas quotidianamente. É necessário que essa obra não seja unicamente dirigida às mulheres, mas sim a todos os seres humanos, para que a mudança de mentalidade se dê não somente nas mulheres,  mas também nos homens que tendem a ridicularizá-las. É, ainda, essencial que se transmitam novas hipóteses, novos modelos de educação que não distanciem o sexo feminino do masculino, porque, afinal, é no berço que a discriminação se inicia. Torna-se, de facto, eminente a necessidade de renovar a mentalidade social e a educação com a qual provê as crianças, uma vez que serão, elas próprias, provedoras de uma educação idêntica à que receberam. É igualmente fundamental que a questão da liberdade sexual da mulher não seja esquecida, pois esta não foi uma luta que terminou com o final da vaga hippie. É indispensável, também, alargar este combate à sociedade mundial e não agir apenas localmente. 

Tudo isto se afigura como um processo lento e difícil, mas não será, com certeza, impossível se a mulher não desistir de se activar, isto é, não desistir de si. A mulher deve combater a passividade e consumir exaustivamente os seus direitos, mas não se deve conformar com eles, comparando o seu bem estar actual com as mutilações físicas, morais, sociais e contra a integridade de que eram (e ainda são) vítimas as mulheres. Deve, antes, inspirar-se neles para observar mais atentamente o seu quotidiano, as mutilações de que (ainda) é vítima, perceber porque isso (ainda) acontece e, finalmente, revoltar-se numa rebelião pacífica, mas não passiva, em busca de uma igualdade não só aparente nas leis, mas assumida na mentalidade de toda a sociedade. Porque, hoje, a mulher ainda não é mulher.


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