domingo, 21 de agosto de 2011

Senhora

- Senhora, o que te faz tão franzida
Tão refeita
Tão suspeita?
Quem escolhe a mansa vida
Verá bem o que rejeita.

- Vai e traz-me um cabelo
Dum dragão enamorado
Pois se me falas de amor
Quero vê-lo feito e provado.
à volta dar-te-ei guarida
Sentar-te-ei a meu lado.

- Senhora, o que te traz tão sujeita
Tão faltosa
Suspirosa?
Quem fia, borda, ajeita
Murcha cedo como a rosa
Não tem ciência nem prosa
Não sabe o nome que aceita.

- Vai roubar o setestrelo
A um deus mau e zangado
Pois se me dizes saber
Quero prová-lo, e habitado.
à volta dar-te-ei suspeita
De que não estás do meu lado.

- Senhora, o que te jaz tão famosa
Tão ausente
Tão pugente?

- Quem escolhe, parte e rejeita.
Quem parte, vai e não colhe.
Quem vai, faz e não ama.
Quem faz, fala e não sente.
São teus olhos os sujeitos
São de granito os meus peitos.
Quem fia, borda e ajeita,
Quem espera, fica e não escolhe,
Quem cala, quieta na cama,
Sou eu deitada a sentir
Tua roda de fugir
Tua cabela em meu ventre.

11/3/71

As Três Marias - Novas Cartas Portuguesas
( Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa )

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