segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bullying Machista

Victória Esseker tem 16 anos e é de Aveiro, Portugal. Não se assume como feminista, mas afirma que "o bullying (no meu caso) esteve bem relacionado com as diferenças do sexo". Victória explica: "sei bem por experiência própria a disparidade entre os homens e mulheres que começa já desde pequeninos e que vai afectando as garotas e os garotos, dependendo do assunto. As coisas pelas quais passei acontecem mais às meninas, o que nos exigem é simplesmente demais". Saibam qual foi a experiência de Victória Esseker:


« Repitam comigo: Não vou baixar a cabeça quando esses retardados falarem!


Entre pessoas como eu que sabem admitir que a raça humana está recheada de terríveis defeitos e Deus nosso senhor nos abençoou com uma terrível habilidade para falhar e errar que quase parece uma arte, e pessoas que não sabem admitir quando são más e, pior, ainda acham que é fixe cometer erros com as outras pessoas, há uma grande distância.

Ao longo da minha vida fui-me cruzando com este tipo de pessoas, ou melhor, crianças que não eram e não são crianças nenhuma, que sempre gostaram de me fazer sentir mal comigo própria, sempre me deitaram à cara que eu era feia, que eu era burra, que eu não era o suficientemente boa em nada. Desde ao rapaz que me deu um murro no estômago à rapariga que me disse que eu não prestava a jogar basket e me fez esconder de baixo de uma bancada a chorar, desde o rapaz que me insultou e eu perdi a paciência e quase lhe bati, à rapariga que dizia que eu era louca, entre outros.

O meu verdadeiro problema foi eu ter onze anos na altura em que o bullying começou, eu não sabia que eles não tinham razão, eu não sabia que no futuro haveriam adultos a dizer que tinha uma inteligência fora do comum e que de vez em quando surgiriam rapazes que diriam que eu era bonita e que me trariam problemas. Eu não sei porque é que eu era a rapariga deixada sozinha nos corredores, porque quando penso na rapariga popular da minha turma, a verdade é que ela era uma feiosa e mesmo assim ela tinha os rapazes garantidos incluindo o rapaz que eu gostava. E, estas filosofias não me fizeram bem porque eu comecei a pensar que era gorda porque não era uma magricelas, que era burra por ser má a matemática, que era feia por não usar roupas de marca e de moda, que nunca jogaria bem basket como outras raparigas, que eu era demasiado alta, que eu nunca teria um namorado, etc, etc.

É triste porque as crianças deveriam ser inocentes, não deveriam fazer sentir mal as outras crianças. A culpa é delas? Sim e não. A culpa é delas porque se eu me apercebia com essa idade que quando batia num animal podia chegar a matá-lo e que quando chamava nomes a outra criança ela choraria, então eu não deveria fazê-lo, porque eram coisas tristes. Por outro lado a culpa não é delas porque não foram elas que criaram os concursos de beleza, as revistas cor-de-rosa, as celebridades e muito menos as modas que atingem massas e os padrões de inteligência, elas eram e são vítimas dalgo que os adultos controlam. Os adultos tem culpa do bullying, foram eles que criaram sem criar seres tão cruéis.

Ainda hoje no secundário sou uma rejeitada, não como era quando era garota mas sou, e às vezes os fantasmas dos corredores do meu antigo colégio me perseguem e me batem e insultam no corredor de cacifos até que eu desista de correr e caia no chão e chore e me sinta como há cinco anos. Não sou eu que choro, é uma menina de doze anos que acha que eles tem razão e se esquece dos momentos nos quais foi valorizada.

Sim, hoje é diferente, eu sei ler a personalidade dos que me odeiam, as pessoas que me querem atingir tem problemas de auto-estima, sofrem de daddy issues, são raparigas que tem problemas com elas próprias e como toda a gente (engraçado, algumas são umas verdadeiras feiosas e a personalidade não as ajuda), hoje eu sei que não sou a única porque conheço muita gente que é como eu. Sabem, os populares pensam que todo o mundo os ama, mas é mentira. Eles vivem nessa podre ilusão e devíamos ter pena deles porque nós somos normais. É normal que hajam pessoas que nos querem fazer sentir mal, eles tem um nariz demasiado empinado, são uns pobres coitados que, em vez de investirem neles próprios, insultam qualquer pessoa que seja diferente, qualquer pessoa desde que cumpra um ou mais dos seguintes critérios:

  • Veste roupa diferente
  • É um pouco mais inteligente que o normal
  • Tem um sotaque diferente
  • Parece mais novo ou mais velho para a idade
  • É demasiado bonita
  • Não é tão atraente como as outras raparigas
  • É swag
  • Não é swag
  • É bom(boa) nalguma coisa - pelo que deve-se dizer que tem a mania e que acha que é mais do que os outros por ter algum talento
  • É má nalguma coisa - É má nalguma coisa? É burro, inútil, estúpido, não sabe nada!
  • Faz vídeos para o Youtube - Mais uma vez é uma pessoa que acha que é mais do que os outros e que quer aparecer
  • Não sai à noite todos os fins de semana
  • É puta - Puta é uma rapariga que tenha tido vários namorados ou que não goste de compromisso e se fique pelas curtes, é bom lembrar que um rapaz que se fique por curtes deve ser honrado e não criticado, ou pelo menos não digas nada porque sabes bem que é normal
  • É virgem - Virgem é qualquer pessoa que não tem um histórico público de relações (se as pessoas acham que aquela pessoa nunca teve um namorado(a), então essa pessoa nunca teve um namorado(a) ), mesmo que já tenha tido relações sexuais se essa pessoa não fizer entender aos populares que sabe dar um beijo, então essa pessoa nunca deu um beijo
  • Corta os pulsos - Se é uma pessoa que corta os pulsos e nós não sabemos nadinha da vida dela é óbvio que é uma pessoa com problemas psicológicos que se está a armar em coitadinha! Gozemos com essa pessoa porque é errado cortar os pulsos, não é ao tentar compreendê-la que a haveremos de ajudar!

E se as pessoas cometem suicídio depois de anos de gozarmos com eles e de lhe batermos, o que dizemos?

-Oh, não acredito! Gostávamos tanto dele(a)! Tinha tanto talento, era tão bonita, era um modelo a seguir! Como foi capaz? A culpa é da sociedade! »


FONTE: Reckless 'N' Bipolar (o blogue da Victória Esseker).


Partilhem a vossa experiência também! Aqui na caixa de comentários ou por e-mail ( diariodasfemeas@gmail.com ), enviem os vossos testemunhos sobre bullying ou qualquer outro assunto relacionado com diferenças de género (por exemplo, stalking, violência doméstica, assédio, violação, piropos na rua, algo que vos tenha incomodado e que saibam que vos aconteceu ou foi agravado por serem do sexo feminino). Vale tudo!


2 comments:

http://expresso.sapo.pt/homens-pais-e-vitimas-de-violencia-domestica=f770120

Já agora o que pensas disto?

Para quando alguma isençao, a fim de ganhar alguma credibilidade?

(comentário recuperado de 2 de Dezembro de 2012)

estimado anónimo,

em primeiro lugar, este blogue não é, nem pretende ser isento. Além disso, a isenção não é promotora da credibilidade, mas sim a veracidade (ou verosimilhança) e o exercício da lógica e do raciocínio.

Em segundo lugar, nunca aqui foi dito que os homens não sofrem de violência doméstica e já por várias vezes condenei mulheres que querem "vingar-se" dos homens. Isso não é feminismo. Bater num homem, não é feminismo. Agora, convenhamos, a maior parte dos casos de violência doméstica é contra mulheres e claramente motivados por questões de género. Este é um blogue sobre todo o tipo de discriminação contra as mulheres. Logo, é aos casos de violência contra mulheres que aqui dou relevo.

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