« Persuadem a criança de que é por causa da superioridade dos meninos que exigem mais dela; para encorajá-la no caminho difícil que é o seu, insuflam-lhe o orgulho da virilidade; essa noção abstrata reveste para êle um especto concreto: encarna-se no pênis; não é espontaneamente que sente orgulho do seu pequeno sexo indolente; sente-o através da atitude dos que o cercam. Mães e amas prepetuam a tradição que assimila o falo à ideia de macho; seja porque lhe reconhecem o prestígio na gratidão amorosa ou na submissão, seja porque constitua para elas um revide reencontrá-lo sob uma forma humilhada, o fato é que tratam o pênis infantil com uma complacência singular. Rabelais diz-nos dos folguedos das amas de Gargântua (1); a história registou os das amas de Luís XIII. Mulheres menos impudentes dão entretanto um apelido gentil ao sexo masculino a falam-lhe dele como de uma pequena pessoa que é a um tempo ele próprio e um outro; fazem desse sexo, segundo a expressão já citada, "um alter ego geralmente mais esperto, mais inteligente e mais hábil do que o indivíduo". Anatomicamente, o pénis presta-se muito bem a esse papel; separado do corpo, apresenta-se como um pequeno brinquedo natural, uma espécie de boneca. Valorizam portanto a criança valorizando-lhe o duplo. Um pai contava-me que um de seus filhos com a idade de três anos ainda urinava sentado; um dia o pai levou-o ao W. C. dizendo-lhe: "vou te mostrar como fazem os homens". A partir de então o menino, orgulhoso de urinar em pé, desprezou as meninas "que mijam por um buraco"; [...]
Assim, longe de o pênis ser descoberto como um privilégio imediato de que o menino tiraria um sentimento de superioridade, sua valorização surge ao contrário como uma compensação inventada pelos adultos e ardosamente aceita pela criança. [...] Posteriormente, o menino encarnará em seu sexo sua transcendência e sua soberania orgulhosa.
A sorte da menina é muito diferente. Nem mães nem amas têm reverência e ternura por suas partes genitais; não chamam a atenção para esse órgão secreto de que só se vêo invólucro e não se deixa pegar; em certo sentido, a menina não tem sexo. Não sente essa ausência como uma falha; seu corpo é evidentemente uma plenitude para ela. mas ela se acha situada no mundo de um modo diferente do menino e um conjunto de fatores pode transformar a seus olhos a diferença em inferioridade ».
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