sexta-feira, 8 de março de 2013

HumPar alerta para a Violência Obstétrica, no Dia da Mulher


VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA, sabe o que é?

A HumPar - Associação Portuguesa pela Humanização do Parto, juntamente com a Associação Doulas de Portugal e a Rede Portuguesa de Doulas vem lançar uma campanha de consciencialização para a violência obstétrica, no dia 8 de Março, em que se celebram 103 anos do Dia Internacional da Mulher.


O Mês de Março será dedicado à divulgação de informações relativas ao contexto da Violência Obstétrica em Portugal e à promoção e dinamização de iniciativas que fomentem uma mudança efetiva da realidade da assistência ao nascimento. [...]

O que é a Violência Obstétrica?
Violência Obstétrica é qualquer ato ou intervenção direccionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera, ou ao seu bebé, que tenha sido praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher/casal e/ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências.


À luz deste conceito de violência obstétrica... o que sentes quando lês uma história de nascimento como a que se segue abaixo? [...]
Quando dei entrada no hospital para uma indução, com 39 semanas, não sabia que iria ser um dos dias mais difíceis da minha Vida. Aquilo que me foi dito foi “que era assim, protocolo, que era normal”, e entrei para me depilarem, levei soro, fiquei nua à espera de uma bata, depois chegou um médico que me colocou um gel dentro da vagina, sem nunca olhar para mim e nem sequer me responder quando lhe perguntei para o que servia.

Depois mais soro, horas sozinha num quarto, o meu companheiro tinha que entrar e sair constantemente, e ao fim da tarde entraram 4 homens de capa branca. Um a um, fizeram o toque. Depois, no final, o médico (o que me colocou o gel), meteu a mão dentro de mim e rasgou-me a bolsa, que foi das dores mais fortes que tive na vida, uma dor física e emocional que me acompanhou e ainda hoje me incomoda. Nunca ninguém falou comigo. Ao princípio da noite e depois de olharem continuamente para o ctg, veio uma enfermeira e colocou-me um cateter dentro da minha bexiga e disse: agora tem que se levantar e passar para a marquesa. Nessa altura percebi que tinha uma cesariana à minha frente. Depois disso lembro-me de estar nua, toda nua, de braços abertos numa espécie de cama com braços, como uma cruz, e de me dizerem que deveria contar até dez para anestesia fazer efeito. E fez. Só 3 horas depois acordei, sem o meu filho ao meu lado. Sozinha. Não consegui dar de mamar. Chorei semanas sem saber porquê. Afinal o meu bebé era saudável, certo? Só anos mais tarde percebi que estes protocolos não foram os correctos, apenas os “normais”.
O que aconteceu de maravilhoso foi que esta experiência me abriu os olhos e comecei uma aventura que dura ainda hoje, no apoio e defesa dos direitos das mulheres.

Precisamos de ir para a rua gritar que já chega!

M.

[...]

São exemplos de actos de violência obstétrica, que podem tomar a forma de abusos físicos, verbais e/ou psicológicos e que acontecem diariamente em instituições de saúde e consultórios em Portugal:

  • Impossibilitar que a mulher seja acompanhada por alguém da sua escolha, familiar ou outro;
  • Tratar a mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, rude, em tom de gozo, dando-lhe ordens e nomes infantis e diminutivos, tratando-a como incapaz, com indiferença, ou de qualquer forma que a faça sentir-se humilhada ou assustada;
  • Impedir a mulher de comunicar com o "mundo exterior"; 
  • Submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como:
    - Posição ginecológica (estar deitada de costas, expondo os genitais) estando a porta do quarto aberta; - Ser “tocada” (exames vaginais) mais de uma vez e por várias pessoas ao longo do trabalho de parto, geralmente sem esclarecimento ou sem sequer pedir permissão;
  • - Submeter a mulher a qualquer outra rotina desnecessária e que implique um aumento do seu desconforto na sua experiência de parto, como descolamento de membranas (“toque doloroso”), amniotomia (rutura artificial de membranas), proibição da ingestão de líquidos via oral, etc., (saiba mais sobre as recomendações da Organização Mundial de Saúde a respeito de procedimentos e intervenções desnecessárias e prejudiciais durante o trabalho de parto aqui);
  • Fazer pouco ou recriminar por qualquer comportamento menos aceitável socialmente, como gritar, chorar, ter medo, vergonha, etc;
  • Repreender, ameaçar, fazer chantagem ou assediar em termos morais a mulher/casal por qualquer decisão que estes possam ter tomado, se essa decisão for contra as crenças, fé ou valores morais de qualquer membro da equipa, por exemplo: não ter feito ou feito de forma considerada inadequada o acompanhamento pré-natal, ter muitos filhos, ser mãe jovem (ou o contrário), ter tido ou tentado ter um parto em casa, ter tido ou tentado ter um parto sem assistência médica, ter tentado ou ter efetuado um aborto, ter atrasado a ida para o hospital; não ter dado todas as informações pedidas, seja intencional ou involuntariamente;
  • Ignorar ou desvalorizar as escolhas e os pedidos da mulher/casal feitos através do seu plano de parto ou nas consultas de atendimento da gravidez e durante o parto;
  • Permitir a entrada de pessoas estranhas ao serviço para "assistir ao parto", quer sejam estudantes, residentes ou profissionais de saúde, sem o consentimento prévio da mulher e do seu acompanhante, e sem lhes dar a possibilidade clara e justa de dizer “não o desejamos”;
  • Submeter uma mulher a uma cesariana desnecessária, sem a devida explicação dos riscos que ela e o seu bebé correm (complicações da cesariana, da gravidez subsequente, risco de prematuridade do bebé, complicações a médio e longo prazo para mãe e bebé);
  • Dar hormonas sintéticas (“um cheirinho”) para tornar mais rápido e intenso um trabalho de parto que está a evoluir normalmente;
  • Realizar episiotomia de rotina (corte na vagina), quando já se sabe que a necessidade real deste procedimento é muito baixa. Dar um ponto na sutura final da vagina de forma a deixá-la mais apertada para “aumentar o prazer do cônjuge” ("ponto do marido"); 
  • Colocar-se sobre a barriga da mulher exercendo força para expulsar o bebé (manobra de Kristeller); 
  • Submeter a mulher e/ou o bebé a procedimentos feitos exclusivamente para formar academicamente estudantes e residentes; 
  • Submeter bebés saudáveis a aspiração de rotina, injeções e procedimentos na primeira hora de vida, antes de serem colocados em contato pele com pele e de terem tido a oportunidade de mamar; 

Se já passou por alguma destas situações de violência obstétrica, de violação de direitos humanos no nascimento, partilhe a sua história connosco usando o seguinte e-mail: geral@humpar.org. [...] »

FONTE: Humpar.

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