segunda-feira, 18 de março de 2013

Que imagem passam das mulheres, os nossos órgãos de comunicação social?

"Há jornais com uma visão redutora das mulheres"


Carla Cerqueira analisou 727 conteúdos publicados ao longo de 32 anos

Uma investigação do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho conclui que a imprensa portuguesa transmite uma visão dicotómica das mulheres: ou são seres "especiais" que conseguem triunfar num mundo "dominado por homens" ou vítimas incapazes de fugir de uma situação de subalternidade.

Esta homogeneização faz com que os cidadãos tenham uma percepção redutora do papel das mulheres na sociedade, alerta Carla Cerqueira, que dedicou o doutoramento à cobertura do Dia Internacional da Mulher em dois jornais nacionais, desde 1975 até 2007.
O estudo teve como objectivo analisar a evolução da cobertura jornalística desta efeméride na imprensa portuguesa, ou seja, averiguar de que forma as mulheres, as associações e os temas de género têm sido representados ao longo de mais de três décadas. A análise pormenorizada de 727 notícias do Jornal de Notícias (JN) e Diário de Notícias (DN) demonstra a falta de "substância" no tratamento dos conteúdos, nomeadamente no que diz respeito a temas relacionados com a ascensão profissional e a violência doméstica.
“As questões estruturais que estão na base das desigualdades experienciadas no mercado do trabalho não são destacadas. Nestas peças, as mulheres assumem relevância noticiosa pelo que fazem, mas nunca deixam de ser o que são: mulheres, mães, esposas", explica Carla Cerqueira, que é professora do Instituto de Ciências Sociais. Quanto à violência doméstica, os media aproveitam sobretudo este Dia para apresentar dados estatísticos, estudos científicos ou casos pessoais exemplificativos, negligenciando os contextos socio-históricos e as dimensões psicossociais.
O tópico mais enfatizado pelos repórteres é a igualdade, definida como a capacidade para inverter os papéis tradicionais de género: "As mulheres são noticiosamente construídas com características tradicionalmente associadas ao 'padrão masculino', isto é, como casos excepcionais", sublinha a investigadora. A análise mostra ainda que os conteúdos foram frequentemente tratados com perspectivas "muito parecidas", transmitindo apenas algumas das realidades destas mulheres em detrimento de outras com igual relevância.

A estereotipização jornalística do sexo feminino está associada a questões estruturais, que assentam na desigualdade de género e "precisam urgentemente" de ser desconstruídas. "Trata-se de um terreno complexo que exige um trabalho de educação para a inclusão e para a diversidade nos vários campos da sociedade", reforça a investigadora. Para além de ter analisado mais de sete centenas de artigos, Carla Cerqueira entrevistou cerca de duas dezenas de jornalistas, fotojornalistas e directores, bem como porta-vozes das associações de promoção da igualdade de género, feministas e activistas ligadas ao Dia Internacional da Mulher.
Biografia

A investigadora de 30 anos é natural de Vila Verde, Braga. Doutorada em Ciências da Comunicação pela UMinho, dedica-se sobretudo aos estudos sobre género e media. Em Janeiro de 2013 iniciou o pós-doutoramento «Olhando por dentro da cidadania e da igualdade de género: as (des)conexões entre a cultura jornalística e as estratégias de comunicação das organizações não governamentais».

O trabalho está a ser orientado por Rosa Cabecinhas, professora do Instituto de Ciências Sociais da academia, Liesbet van Zoonen, da Universidade de Loughborough  (Reino Unido), e Juana Gallego Ayala, da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha). A investigadora é ainda vice-chair da secção de Género e Comunicação da European Communication Research and Education Association.

FONTE: Ciência Hoje.

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(Comentário recuperado de 1 de Abril de 2013)

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